
Quatrocentas mil pessoas assistiram simultaneamente na CazeTV à mais recente conquista de Hugo Calderano, que fechou o fim de semana com 100 mil novos seguidores no Instagram.
O novo campeão do mundo agora volta para casa, no sul da Alemanha, atrás de um feito bem menos midiático: tentar levar o time de Ochsenhausen, uma cidadezinha de 8 mil e tantos habitantes, ao título da Bundesliga de tênis de mesa. O jogo de ida da semifinal será no domingo (27) e, a volta, em casa, na quarta (30).
É a última chance de Calderano conquistar um grande título pelo Ochsenhausen. Ele já anunciou que segue na cidade, continuará treinando no mesmo ginásio de sempre, com os mesmos companheiros de sempre, mas não jogará mais pelo clube.
A razão vai muito além da relação afetuosa entre Calderano e a cidade que o acolheu quando tinha só 18 anos. Ela está ligada à nova ordem do tênis de mesa mundial.
Essa nova ordem diz: se você está entre os melhores do mundo, você precisa jogar os melhores torneios do mundo. Ou será punido por isso.
Em dezembro, Fan Zhendong e Chen Meng, respectivamente campeão e campeã olímpicos em Paris-2024, publicaram em suas redes sociais uma “Notificação de Aposentadoria da Carreira de Jogador”, informando que não mais jogarão torneios internacionais. Fan, de 27 anos, deixou claro que não está se aposentando e seguirá competindo na China.
Os anúncios vieram uma semana depois de a WTT, braço da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF) que organiza o circuito mundial, anunciar seu regulamento geral para 2025 prevendo que cada atleta do top10 tem direito a não ir a somente dois eventos de elite do calendário internacional. Por cada falta, a multa é de US$ 5 mil.
A ITTF alegou que a regra existe desde que a WTT foi criada, em 2021, com Fan respondendo depois ter sido informado que as multas passariam a ser aplicadas nesta temporada.
Inscreva-se para entender o que acontece no esporte olímpico
O assunto ganhou grande repercussão na China, onde Wu Jingping, técnico da seleção local por quase 30 anos, disse que o tênis de mesa foi “seduzido pelo capital para servir de plataforma para partidas comerciais”, tendo sua essência distorcida.
De fato, o tênis de mesa internacional está mais comercial. Eventos maiores, mais luzes, mais shows, mais patrocinadores. Também mais eventos com a participação de todos os melhores do mundo, o que significa, claro, mais confronto entre eles.
Até este ano (último de um planejamento quadrianual que começou em 2022), o calendário internacional tem quatro etapas de Grand Smash, que valem, cada um, os mesmos 2.000 pontos de uma Olimpíada ou Mundial.
Depois, por ordem de importância, aparecem:
- Copa do Mundo (vale 1.500 pontos ao campeão)
- WTT Finals (no final do ano, também 1.500 pontos)
- WTT Champions (seis etapas, 1.000 pontos cada)
- WTT Star Contender (seis etapas, 600 pontos cada).
- Campeonatos continentais (até dois por ano, 500 pontos cada)
- WTT Contender (400 pontos cada)
- E por aí vai
(O calendário completo pode ser baixado aqui)
Na ponta da pirâmide, é parecido com o tênis. Se Zverev e Alcaraz jogam, em média, de 20 a 25 torneios por temporada, no tênis de mesa o piso para a elite é 15, podendo ir além – o japonês número 3 do mundo, por exemplo, jogou 23 torneios nas últimas 52 semanas.
Não havia como Calderano seguir rodando o mundo para jogar torneios, a maior parte deles na Ásia, e, na volta à Alemanha, se dedicar à Bundesliga, que tem 22 rodadas só no turno e returno. E, se o clube for bem, ainda tem a Champions League, que, para caber no calendário, joga até na semana do Natal.
O agora campeão do mundo é esperado em Brasil para um Star Contender, que dá para comparar com um ATP 500, entre 29 de julho e 3 de agosto, em Foz do Iguaçu (PR), que vai distribuir US$ 300 mil em prêmios. O WTT Contender do Rio de Janeiro, que no ano passado foi em maio e distribuiu US$ 80 mil, saiu do calendário.
Deve ser a única competição de Hugo Calderano no Brasil, já que ele não joga o circuito nacional, organizado pela CBTM, ainda que esteja filiado aqui pelo clube de São Caetano do Sul.
A Confederação Brasileira se candidatou para organizar o Campeonato Mundial em 2027 ou 2029, mas a concorrência é bastante acirrada. Também se inscreveram China, França, Cazaquistão e EUA por 2027 e Austrália, China, Alemanha, Iraque e EUA por 2029. E Iraque, Itália e Japão, além, sempre, da China, querem o torneio de 2028.
As sedes serão escolhidas pelas federações nacionais em assembleia da ITTF em 27 de maio.



Deixe um comentário